Leitores
assíduos de best-sellers do momento como: “Marley e eu” e “O caçador de pipas”
tendem a desenvolver a síndrome de aversão às obras clássicas. Alegam que os clássicos são indigestos. Texto
rebuscado, com verbetes desatualizados, leitura complicada e arcaíca. Dizem que
há exagero nas descrições de locais e de objetos, escritos antes da invenção da
tecnologia da imagem, os escritores esmiuçavam as descrições, tornando o texto
enfadonho. Fatores que caracterizavam o estilo da época, normas estéticas
diferentes da atualidade.
Alguns desses leitores dizem que nos clássicos há ainda uma intromissão excessiva no fluxo
psicológico com conseqüente acesso aos sentimentos e reações dos personagens.
Certamente os leitores que sofrem da síndrome,
nunca leram Ernest Hemingway. O escritor americano foi um dos maiores do século
XX. Autor de 16 obras importantes marcou a história literária com “Morte ao
Entardecer”, “Por que os sinos dobram”,
“Adeus as Armas” e “O sol também
se levanta”.
Hemingway
teve uma vida bastante atribulada suicídio do pai, divorcio, a 1ª guerra
mundial e a exemplo do pai, acabou se suicidando em 1961. Alguns críticos
defendem que uma vida trágica contribui para a criação de grandes obras, difícil
analisar, porém, é possível identificar nas obras de Hemingway muitos situações
vividas por ele. Sua obra, porém, permanece imortal.
Uma
indicação aos que sofrem da síndrome de aversão aos clássicos é a leitura de
“Adeus às armas” publicado em 1929. Trata-se de um romance entre uma enfermeira
e um motorista de ambulância durante a I guerra mundial. Eles buscam um lugar
onde será possível o amor sobreviver à presença constante da destruição e
morte.
A
dinâmica da narração é uma marca do escritor. Em “Adeus às armas” ela se dá por
diversos fatores como inexistência das descrições psicológicas. É como uma obra
aberta, afinal, o leitor pode analisar o que se passa na mente dos personagens
acompanhando os fatos e diálogos. Semelhante a um filme, tamanha perfeição da
movimentação dos acontecimentos. Hemingway é direto nas descrições das cenas, não
faz voltas em cima dos fatos. Não há histórias paralelas e o texto é escrito em
primeira pessoa com foco num único personagem.
Outro fator que é enriquecedor nas obras clássicas
é o contexto histórico. Ir em busca do momento histórico em que a obra foi
produzida, faz com que o leitor entre numa máquina do tempo. Ele pode sentir
como o escritor viveu os acontecimentos à sua volta. E isso é possível em
“Adeus às Armas”. Hemingway viveu a I Guerra Mundial, foi ferido em combate e
acabou se apaixonando por uma enfermeira. Mas, diferente do livro, seu amor não
foi correspondido. Em “Adeus às Armas” os personagens vivem um amor pleno que
nos faz desejar protegê-los e guia-los a um lugar seguro. A obra prende e nos
faz sonhar e repensar nossos conceitos de vida. “Adeus às Armas” é tão intenso
que é capaz de seduzir até mesmo os leitores fascinados unicamente por
best-sellers da moda.
Eli Antonelli - texto 2009 Grupo Educacional Positivo
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