Duas apresentações
de Nambía!Não este ano em Curitiba, bastaram para conquistar o público da
cidade
O Festival de
Teatro de Curitiba que ocorreu em março deste ano, deixou um gostinho de
quero mais, ao mostrar a peça Namíbia!Não, com texto de Aldri Anunciação e dirigida
por Lázaro Ramos, que trata da questão racial mesclando humor e conversa séria.
E mais Aldri acaba
de levar o prêmio do Portal R7 como melhor autor de teatro de 2012. O concurso
realizado teve 100 mil votos de participação do grande público, durante 11
dias. Os nomes foram indicados pelo
jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado e o fotógrafo teatral Bob
Sousa. Mas, quem escolheu mesmo foi o público.
Aldri, fotógrafo Leandro, Alessandra (assessora), Itamar (fotógrafo), Eli, Flávio e Marco (fotógrafo)
A peça
|
Com um cenário todo
branco, os dois personagens Antonio e André, vividos por Aldri e o consagrado
ator Flávio Bauraqui estão diante de um grande problema: Em 2016, uma medida
provisória que estabelece que toda a população negra, pessoas de melanina
acentuada, como relata o texto, devem voltar à África.
Para quem perdeu a
peça, não pode deixar de ler o livro “Namíbia!Não” de Aldri Anunciação,
disponível nas melhores livrarias. A obra traz os diálogos da peça, com
inclusão de 4 cenas que não estão na apresentação.
foto Itamar Crispim |
Em pleno século
XXI, ocorre a diáspora vivida pelo povo africano do Brasil escravocrata. A
medida é uma ação de reparação social aos danos causados pela União E aí vem
toda uma discussão: como as pessoas poderiam identificar qual país está sua
origem? Como deixar sua pátria? A língua oficial da Namíbia é o alemão? E como
explicar os impactos da colonização europeia na África. A peça traz reflexão
sobre a fome na África e inúmeros outros questionamentos se colocam. E no meio
de humor e drama, o público se vê diante de questões que levam à reflexão
direta sobre o racismo e a importante contribuição da população negra na
formação do país. Em uma determinada cena, os personagens começam a
pontuar o que seria do Brasil sem as várias personalidades negras do
Brasil.
O cenário é
assinado por Rodrigo Frota. Traz uma alusão numa sociedade que insiste na
valorização uma hegemonia supostamente branca. Todos os elementos que
compõem o cenário são brancos, paredes, móveis, um tabuleiro de xadrez com
todas as peças da mesma cor e até mesmo o chá, servido numa determinada
cena.
capa do livro |
Outros elementos
chamam a atenção, Bauraqui pontua a dinâmica da peça no texto e na condução da
direção de Lazaro Ramos “Ele trouxe elementos do cinema e conduz as cenas
de forma muito dinâmica”, diz. O público vê não simplesmente um palco
plano e sim um espaço que dialogo com uma externa em que mescla telões com
vídeos e janelas ao fundo, onde os atores encenam conversas com supostos
moradores, e se comunicam com os demais personagens. Entre esses é possível
identificar vídeo e sonora de atores como Wagner Moura e Luis Miranda que conta
que ao se deparar com o texto de Aldri, gostou do aspecto da ironia proposta “O
tema nos propõe a discussão sobre a contribuição que a população negra deu na
construção do nosso país. Os índios viviam aqui, mas convivam com a natureza
harmonicamente. A construção do Brasil teve muito sangue e suor do povo
negro, também.”, reflete.
A neve surreal que
se vê uma determinada cena remete ao período que Aldri escreveu a peça, quando
fazia estágio na Áustria com direção de assistência de Operas. Desta experiência,
ele assimilou também, a tensão do texto e faz uma correlação com as relações
humanas no país “Comparo Namíbia, não com uma opera de Giacomo Puccini
quando entram todos os instrumentos vão subindo, então entra um sobrano com uma
voz fininha e quando sai, desce numa agonia que remeto a dramaturgia. É mais ou
menos como um avião tem toda uma turbulência, neste momento alguns tremem
choram e assim vai até lá em cima e começa a acalmar. Até se estabilizar e
aterrissar, há uma forte porrada e aí termina”, compara.
O livro tem a mesma
dinâmica da peça e vale a pena ler. Fazendo certo mistério, durante uma
coletiva de imprensa, Flavio e Aldri entregaram que vem novidade por aí.
Questionados sobre a possibilidade de fazer um filme caíram numa gostosa
gargalhada, dizendo “agora já era, vamos falar. Existem planos, sim”.
É esperar para
conferir, o sucesso dos palcos e do livro em breve nas telonas.
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