quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Peça Namíbía! Não! Discute questão racial mesclando humor e drama



Duas apresentações de Nambía!Não este ano em Curitiba, bastaram para conquistar o público da cidade
O Festival de Teatro de Curitiba que ocorreu em março deste ano,  deixou um gostinho de quero mais, ao mostrar a peça Namíbia!Não, com texto de Aldri Anunciação e dirigida por Lázaro Ramos, que trata da questão racial mesclando humor e conversa séria.
E mais Aldri acaba de levar o prêmio do Portal R7 como melhor autor de teatro de 2012. O concurso realizado teve 100 mil votos de participação do grande público, durante 11 dias. Os nomes foram indicados pelo  jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado e o fotógrafo teatral Bob Sousa. Mas, quem escolheu mesmo foi o público.

Aldri, fotógrafo Leandro,  Alessandra (assessora), Itamar (fotógrafo), Eli, Flávio e Marco (fotógrafo)

A peça
Com um cenário todo branco, os dois personagens Antonio e André, vividos por Aldri e o consagrado ator Flávio Bauraqui estão diante de um grande problema: Em 2016, uma medida provisória que estabelece que toda a população negra, pessoas de melanina acentuada, como relata o texto, devem voltar à África.
Para quem perdeu a peça, não pode deixar de ler o livro “Namíbia!Não” de Aldri Anunciação, disponível nas melhores livrarias. A obra traz os diálogos da peça, com inclusão de 4 cenas que não estão na apresentação.
foto Itamar Crispim

Em pleno século XXI, ocorre a diáspora vivida pelo povo africano do Brasil escravocrata. A medida é uma ação de reparação social aos danos causados pela União E aí vem toda uma discussão: como as pessoas poderiam identificar qual país está sua origem? Como deixar sua pátria? A língua oficial da Namíbia é o alemão? E como explicar os impactos da colonização europeia na África. A peça traz reflexão sobre a fome na África e inúmeros outros questionamentos se colocam. E no meio de humor e drama, o público se vê diante de questões que levam à reflexão direta sobre o racismo e a importante contribuição da população negra na formação do país.  Em uma determinada cena, os personagens começam a pontuar o que seria do Brasil sem as várias  personalidades negras do Brasil.
O cenário é assinado por Rodrigo Frota. Traz uma alusão numa sociedade  que insiste na valorização  uma hegemonia supostamente branca. Todos os elementos que compõem o cenário são brancos, paredes, móveis, um tabuleiro de xadrez com todas as peças da mesma cor e até mesmo  o chá, servido numa determinada cena.
capa do livro

Outros elementos chamam a atenção, Bauraqui pontua a dinâmica da peça no texto e na condução da direção de Lazaro Ramos “Ele trouxe elementos do cinema  e conduz as cenas de forma muito dinâmica”, diz. O público vê não simplesmente  um palco plano e sim um espaço que dialogo com uma externa em que mescla telões com vídeos e janelas ao fundo, onde os atores encenam conversas com supostos moradores, e se comunicam com os demais personagens. Entre esses é possível identificar vídeo e sonora de atores como Wagner Moura e Luis Miranda que conta que ao se deparar com o texto de Aldri, gostou do aspecto da ironia proposta “O tema nos propõe a discussão sobre a contribuição que a população negra deu na construção do nosso país. Os índios viviam aqui, mas convivam com a natureza harmonicamente. A construção do Brasil teve muito  sangue e suor do povo negro, também.”, reflete.
A neve surreal que se vê uma determinada cena remete ao período que Aldri escreveu a peça, quando fazia estágio na Áustria com direção de assistência de Operas. Desta experiência, ele assimilou também, a tensão do texto e faz uma correlação com as relações humanas no país  “Comparo Namíbia, não com uma opera de Giacomo Puccini quando entram todos os instrumentos vão subindo, então entra um sobrano com uma voz fininha e quando sai, desce numa agonia que remeto a dramaturgia. É mais ou menos como um avião tem toda uma turbulência, neste momento alguns tremem choram e assim vai até lá em cima e começa a acalmar. Até se estabilizar e aterrissar, há uma forte porrada e aí termina”, compara.
O livro tem a mesma dinâmica da peça e vale a pena ler. Fazendo certo mistério, durante uma coletiva de imprensa, Flavio e Aldri entregaram que vem novidade por aí. Questionados sobre a possibilidade de fazer um filme caíram numa gostosa gargalhada, dizendo “agora já era, vamos falar. Existem planos, sim”.
É esperar para conferir, o sucesso dos palcos e do livro em breve nas telonas.

texto baseado em coluna de Eli Antonelli/Folha Santa Felicidade/jornal 

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