Luiz Ruffato uma boa opção de leitura |
O
desenvolvimento das tecnologias e as possibilidades de acesso à informação cada
vez mais próximas refletem no crescimento da leitura das pessoas. Lemos uma média
de 5 a 10
e-mails por dia, lemos notícias nos jornais, lemos sobre o tempo, lemos
opiniões sobre assuntos polêmicos, lemos material relativo a normas de nosso
trabalho, lemos indicações de livros técnicos nas universidades, lemos até bula
de remédio.
Mas,
você já parou para pensar quando foi a última vez que entrou em uma biblioteca,
despretensiosamente e selecionou ali uma obra para ler
sem necessariamente ser uma indicação do professor ou uma necessidade imediata?
Para
muitas pessoas, o tempo que resta para lazer não é ocupado com a leitura, devido
a essa ser uma constante no dia-a-dia por obrigação. Mas reencontrar o prazer
de ler é um desafio bem interessante. Que tal dedicar um dia por semana, ou um
período para ler uma obra literária ou um livro técnico, que seja, pelo simples
prazer de ler?
Na
última sexta-feira, me perdi pelos corredores de uma biblioteca com essa ideia
em mente, ler por simples prazer. E entre tantas opções, escolhi Luiz Ruffato
para me acompanhar em parte do final de semana. Escolhi uma obra que li há
alguns anos “Eles eram muito cavalos”
lançado em 2001.
A
narrativa é composta por fragmentos da realidade, são 69 pequenas histórias do
cotidiano de personagens anônimos da cidade de São Paulo. E tudo se passa em um
único dia 9 de maio de 2000, qualquer semelhança a Ulisses de James Joyce não é
mera coincidência. Mas a obra é louvável, por nos surpreender e quebrar àquele
paradigma, que é difícil ou quase impossível criar algo novo na literatura. Que
provavelmente o que venha a surgir será sempre releituras das inovações já
realizadas. Mas Luiz Ruffato foi surpreendente nessa obra.
A forma da condução da narrativa é muito
diferente da literatura tradicional. São histórias contadas de forma
não-linear, às vezes em 1ª e outras em 3ª pessoa, sempre focando assuntos
fortes no cotidiano daqueles que são invisíveis na grande metrópole. Hora é a
esposa indignada, pois foi traída e liga para a amante xingando e falando todos
os defeitos do marido. Hora é a descrição de uma viagem de ônibus interminável.
Daquelas que demoram três dias em condições degradantes pelas estradas cortando
o Brasil. Há ainda a simples relação de títulos de livros de uma estante. São
histórias engraçadas, outras vezes extremamente tristes. Ruffato toca na ferida
mesmo. Fala de violência, fala de paixão, fala de vida, enfim. Das nossas vidas,
que se passam todos os dias, cheio de contextos, que valem um livro inteiro de
descrições e narrativas. E ele consegue somar várias dessas histórias e
conduzir àquele dia em São
Paulo que lhe prende, e lhe faz desejar saber mais daquilo.
Um
ponto que vale muito destaque nessa obra de Ruffato é a linguagem é muito
diferente das narrativas que seguem uma linha mais padrão. Ele interfere no
fluxo de consciência. Você acompanha o pensamento do personagem da narrativa,
os diálogos, tudo junto é uma miscelânea de informações, que não fecham o
ciclo. Você consegue participar também, das histórias.
Ler
o que se gosta, o que dá prazer motiva a ler mais, a ler de tudo. O melhor é
mesclar, ler as obras que fazem parte de uma formação, que são importantes, mas
colocar junto a leitura livre, voltada ao simples prazer. Ler um pouco da
leitura livre e ler um pouco das demais. Vale a experiência, ler o que se
gosta, não depender das férias, de um feriado, a leitura por prazer deve entrar
na nossa rotina. E para quem nem tem tempo de escolher vai uma ajudazinha, no
site abaixo, consta a lista das listas dos melhores livros de todos os tempos.
http://www.revistabula.com/materia/100-melhores-livros-de-todos-os-tempos-lista-das-listas/1297
Eli Antonelli, texto publicado no jornal Lona - Grupo Positivo
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