domingo, 23 de dezembro de 2012

Muito além do Complexo de Édipo



Quando o assunto a ser abordado é a importância da contribuição da Grécia à humanidade o debate se torna bastante extenso. A civilização grega deixou heranças relevantes em diversas áreas, como a arte, cultura, filosofia, arquitetura, religião, o misticismo e a política. Esses são apenas alguns exemplos, há muito mais que devemos aos gregos.

Buscando tornar essa tarefa um pouco mais simples, vamos pontuar um item apenas: o teatro grego. E jogando tudo num funil selecionamos Sófocles e a obra Édipo Rei.

Muitos pessoas conhecem apenas o famoso “complexo de Édipo” _o filho se apaixona pela mãe_  mas não se deparou ainda, com toda a riqueza de “Edipo Rei”. Não há registro específico do período em que a obra foi escrita, mas seu autor Sófocles, um dos mais importantes dramaturgos gregos, viveu entre 495 a.C a 406 a.C, sendo possível ter uma ideia do tempo da narrativa. O teatro grego era marcado por temas ligados aos problemas psicológicos, as lendas, mitos e fatos heróicos, principalmente. Em Sófocles, é possível observar a tendência a falar das paixões exageradas e do destino

Édipo Rei tem como enredo a história de Édipo que vive com o destino traçado e colocado pelo oráculo de Delfos, que haveria de matar seu próprio pai e desposar sua mãe, num ato incestuoso. Édipo tenta fugir de seu destino, e no caminho acaba por assassinar um grupo de homens que encontra. Entre esses Laio, rei de Tebas. Outros fatos se sucedem e Édipo é proclamado rei de Tebas e casa-se com a viúva do rei. A trama acontece, e Édipo descobre que sua fuga foi em vão, o suposto pai, rei de Corinto do qual ele fugiu, era apenas seu pai adotivo. O verdadeiro pai era Laio, o qual ele assassinou e desposou sua viúva.

E o que faz uma obra teatral tão antiga como “Édipo Rei” ser uma leitura extremamente prazerosa? A resposta a esta pergunta não é simples, e somente é encontrada por cada leitor após fechar a última página e perceber que obras como esta lhe prendem do início ao fim. Mas, não numa expectativa supérflua de um final feliz. É uma tragédia grega com toda sua pompa e importância. Você sofre junto com os personagens. Sente a angústia de Édipo logo nas primeiras cenas e com ele deseja fugir do destino.

Édipo Rei é uma leitura que não exige um conhecimento prévio aprofundado da cultura e civilização grega para entender e penetrar em seu enredo. Ela traz sim fatores que remetem diretamente a civilização grega como a importância da cidadania, onde o maior castigo, não é a morte, muitas vezes, mas sim viver distante de sua cidade, de não mais ter contato com as pessoas. Os deuses também são presentes na figura de Apolo, muito recorrente. Mas, são itens que despertam interesse e não dúvidas.

A dialética presente nas falas é outro ponto alto da obra. Os diálogos são uma sequência de informações e reações psicológicas dos personagens que não lhe permite ler com total parcimônia. Você, o leitor, se torna quase um ator diante dos diálogos. Ao longo da narrativa você se pega interpretando as frases e muitas vezes se posicionando no papel, de um ou de outro personagem tão ricamente construído. As falas de Édipo destacam outro fato relevante na cultura grega; a arte da oratória. A beleza de suas frases, tão bem elaboradas, se exprime de intensidade e se confrontam com outros personagens. Mesmo não havendo uma descrição detalhada da forma física dos personagens, no decorrer da leitura você já conhece até ver as suas expressões.

O teatro é uma referência na arte. Muitas peças escritas há centenas de anos ainda hoje são encenadas. Sófocles escreveu mais de 100 peças, apenas 7 são conhecidas na íntegra Ajax, Antígona, As Traquíneas, Édipo Rei, Electra, Filoctetes e Édipo em Colono. Sua qualidade da narrativa permite aos leitores imaginarem até mesmo o cenário, com suas cores e é claro com o mais perfeito céu azul da Grécia.

Para quem ainda não leu Édipo Rei, fica o convite. Esta peça foi escrita num mundo e num tempo diferente da realidade do leitor atual. Se entregar a esta leitura é comprar um bilhete de viagem para um lugar diferente, para conhecer pessoas, costumes diversos dessa realidade que cerca o leitor. O melhor de tudo é o retorno, e a vontade imensa da próxima leitura.
Eli Antonelli

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