domingo, 30 de dezembro de 2012

O humor e linguagem de Guimarães Rosa




fonte da imagem http://ocontornodasombra.blogspot.com.br
“Serão os pajens da Virgem,
Ladeiam-na
Como círios de paz,
Colunas
Sem estorço.
Taciturnos
Eremitas do obscuro,
se absorvem.
Sua franqueza comum equilibra frêmitos e gestos
Circunstantes.
Os animais de boa-vontade”
(Guimarães Rosa)

Um mês após a morte de Guimarães Rosa a revista Realidade em dezembro de 1967, publicava os seus últimos poemas com temas focados no natal. Aos 59 anos, prestes a ser indicado ao prêmio Nobel o diplomata, médico mineiro deixou sua marcas na história da literatura brasileira.
O sertanejo e a discussão entre o bem e o mal eram alguns dos elementos presentes em seus enredos. Mas é a linguagem o traço fundamental que faz a literatura de Guimarães Rosa peculiar e excepcional.
O escritor era poliglota, falava mais de dez idiomas e dialetos. Clenir Bellezi de Oliveira em artigo para a revista Discutindo Literatura (13) enumera os componentes que constituíram essa linguagem: a incorporação do falar coloquial do sertanejo_ marcado principalmente, pela viagem do escritor em 1952 pelo sertão mineiro_ em que inspirou as expressões e ditos populares  presentes em suas obras; utilização de recursos poéticos; emprego de neologismos; utilização de diminutivos; emprego de aforismos, ou seja, conceitos como verdades absolutas; rupturas sintáticas, recorrência à silepse de número e contextos que transfere palavras usualmente de determinada classe gramatical para outra.
Esse estilo de Guimarães foi incorporado  primeiramente na novela “A hora e a vez de Augusto Matraga” de 1946. O texto faz parte da obra “Sagarana” que marcou o início da carreira do escritor.
O personagem principal Nhô Augusto é filho de um poderoso coronel, tem fama de brigão e não respeita as mulheres alheias. Com a morte do pai, se perde em dívidas o que acaba fazendo com que seja abandonado pela família. Antes de ir atrás da esposa, resolve enfrentar o major Consilva, que passa a mandar no vilarejo, Nhô Augusto toma uma surra que quase o leva à morte. Na segunda parte da narrativa, Nhô Augusto vive num lugarejo distante e passa a se ligar mais em Deus e repensar sua vida e seus crimes. Na terceira parte retorna a cidade, momento final da narrativa em que é convidado a fazer parte do bando deJoãozinho Bem-Bem.
Alguns leitores se posicionam meio incrédulos a presença de humor no texto de Guimarães Rosa, devido a fama de extensa presença de neologismos e leitura de difícil compreensão. Walnice Nogueira Galvão no artigo “O humor de Guimarães Rosa” afirma que essa crença é um engano “Não só o humor reponta por toda obra de Rosa, aqui e ali, mesmo em meio à gravidade e à melancolia. Mas há também narrativas inteiramente burlescas ou sátiras, do começo ao fim”.
Em “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” o narrador utiliza a mesma linguagem do sertanejo o que traz um mesmo ritmo em toda a obra. No ápice da estória pode-se observar este ritmo e linguagem tão característicos de Guimarães Rosa“_Epa!Nomopadrofilhospritossantamein! Avança, cambada de filhos-da-mãe, que chegou minha vez”.../E a casa matraqueou que nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com os cabras saltando e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual um demônio preso e pulando como dez demônios soltos.”
O humor e a fala característica pode ser conferido em vários trechos “Eh, Seu Joãozinho Bem Bem,  já bateu com o rabo na cerca. Não tem mais”, são falas ligeiras um tanto melancólicas como afirma Galvão que reforçam o humor presente na obra.

Eli Antonelli, publicado grupo POSITIVO. jornal 

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