Analise do samba "Eu sei que vou te amar " de Vinicius de Moraes e Tom Jobim
Quando nos deparamos com
uma obra cultural e atribuímos a ela um considerável valor, buscamos entender
por meio de análises minuciosas seu processo de construção. Acreditamos assim,
que tal conhecimento trará satisfação e somará a importância dessa obra. Para
estudantes e profissionais de Letras esse procedimento é comum. O professor de
língua portuguesa Mauro Dellal faz análise de obras literárias em sites. Formado em
Letras Português Literatura pela Faculdade Estácio de Sá do Rio de Janeiro,
Dellal está cursando atualmente a Pós-Graduação em língua portuguesa e
Lingüística na mesma Instituição.
Numa dessas viagens de investigação cultural, Dellal analisou o texto de Vinicius de Moraes e Tom Jobim de 1958 “Eu sei que vou te amar”. A intenção foi descobrir como os compositores usaram a linguagem musical para produzir um determinado efeito. Dellal compara a boa música ao bom texto “A qualidade está livre da superficialidade não intencional que marcam as obras feitas a partir de uma falta de reflexão e de interesse em querer dizer algo um pouco mais profundo do que simplesmente tocar os nossos sentimentos” explica.
Numa dessas viagens de investigação cultural, Dellal analisou o texto de Vinicius de Moraes e Tom Jobim de 1958 “Eu sei que vou te amar”. A intenção foi descobrir como os compositores usaram a linguagem musical para produzir um determinado efeito. Dellal compara a boa música ao bom texto “A qualidade está livre da superficialidade não intencional que marcam as obras feitas a partir de uma falta de reflexão e de interesse em querer dizer algo um pouco mais profundo do que simplesmente tocar os nossos sentimentos” explica.
“Eu sei que vou te amar,
Por toda a minha vida eu vou te amar,
A cada despedida, eu vou te amar,
Desesperadamente, eu sei que vou te amar.
E cada verso meu será
Pra te dizer, que eu sei que vou te amar,
Por toda a minha vida.
Eu sei que vou chorar,
A cada ausência tua eu vou chorar,
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa tua ausência me causou.
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu,
Por toda a minha vida.” – Vinicius de Moraes e Tom Jobim - 1958
Síntese da analise –
1
– Para afirmar sua certeza os autores utilizam a repetição da frase “Eu sei que
vou te amar”.
2
– Na sequência utilizam a elipse dos termos “sei que”
3- Amará: por toda sua vida, em cada despedida e de forma desesperada, no sentido de total dedicação. A melodia que acompanha esses versos se baseia nisso: repetição e afirmação. A cada dizer da frase principal (eu vou te amar) as notas são, também, repetidas como algo imutável, definitivo. Mas não é só isso; as frases se repetem (melodicamente falando) mudando de escala a cada verso da estrofe. Isso causa o efeito de uma afirmação incontestável, sempre crescente.
4 - As estruturas das frases, em sílabas poéticas são: 6-10-10-
5 A ausência de modulações (mudanças de tons) bruscas dá à música um molde compacto. Apesar de o poema se referir aos opostos amar / não ser amado, essa oposição não se baseia em alterações de estado d’alma. Baseia-se, sim, em algo único, em algo gigantesco, em um amor indestrutível, em um amor auto-suficiente, que regenera em si mesmo. Por assim dizer, a peça mostra total equilíbrio e se mantém pela sua simplicidade (algo que não é fácil de produzir). O simples aqui não é, absolutamente, falta de genialidade, nem falta de inspiração; é, antes de tudo, consciência de limites exatos que valorizam algo prosaico e belo.
Análise na integra : http://pt.shvoong.com/humanities/1834255-eu-sei-que-vou-te/
01)
Lona: Qual o processo de análise que foi utilizado? Que instrumentos foram
usados como base para construção deste texto?
Professor Dellal: O processo utilizado
foi o de teoria de literatura comparada. Aqui, literatura significa tudo que
pressupõe um texto. Uma música é um texto, no que se refere à mensagem que
passa, utilizando sua própria linguagem. Não é o único método, mas um dos
possíveis. Não houve instrumento utilizado; apenas a melodia da canção era o
mais importante.
02)
Lona: Qual a forma de realização deste processo de verificação?
Professor Dellal: Neste método, procuram-se
ligações entre as duas linguagens _texto escrito e texto sonoro. O que uma
influencia na outra. Em meu trabalho, procurei mostrar o equilíbrio entre as
duas linguagens, partindo sempre da letra para a melodia, pois está claro que
esta ordem era a possível para este tipo de análise.
03) Lona: Trabalhar o contexto histórico e o
ambiente do autor na época que foi escrito o texto, proporciona uma melhor
análise sobre o texto? Contribui de alguma forma?
Professor Dellal: Para a ideia a que
me propus, isso era irrelevante. O trabalho foi estritamente formal e de
conteúdo explícito. Mas, sim; em uma análise em que se queira extrair a linha
filosófica e suas consequências, o contexto histórico é importante.
04)
Lona: Quando é feita um estudo de texto como esse é necessário pensar na
questão cultural que está inserido o autor para entender detalhes da obra? Esse
processo é percebido neste texto de Vinicius e Jobim? Por exemplo, o amor exagerado, em que
sociedade é visto isso?
Professor Dellal: Como afirmei anteriormente,
o análise foi apenas da forma e suas ligações internas. Interessou-me o modo
como esse amor exagerado, descrito na letra, se harmonizou com a melodia. Não
creio que esse processo da questão cultural possa ser percebido no poema, pois
o autor o trata com parâmetros universais.
05)
Lona: Com base neste trabalho, quais detalhes você citaria que contribuem para a
beleza da composição?
Professor Dellal: O cuidado com que foi feita
a harmonia entre a letra e a melodia. Esse é o detalhe principal. Uma boa
canção é, para mim, uma harmonia entre os dois extremos que é a letra e
melodia. Em uma canção, está claro que a letra tem a importância principal,
pois é ela quem garante a transmissão da mensagem. Dizendo de uma forma
diferente, a melodia respeita a letra. Não se sobrepõe a ela, mas sim a
potencializa.
06)
Lona: Como se dá o processo de onda lírica no texto?
Professor Dellal: No texto escrito, a onda
lírica é marcada pela sugestão de repetição do sentimento, reiterado pela
utilização de elementos lingüísticos que guardam em si essa marca “eu sei, toda
a minha vida...” junto a uma descrição de contrários (amar/sofrer).
07)
Lona: Qual a importância do movimento cíclico que há na música e onde ele
aparece?
Professor Dellal: Aí está o segredo da
harmonia: O movimento cíclico está na música inteira.
08)
Lona: O que faz dessa composição
refinada e ao mesmo tempo popular?
Professor Dellal: Justamente esta harmonia
entre letra e melodia. Além disso, se olharmos separadamente, tanto a melodia
como a letra são elementos que sobrevivem sozinhos. O refinamento se dá, então,
pela forma, e o fator popular, pela simplicidade.
09)
Sua experiência de mais de 20 anos com a orquestra da Petrobrás contribuiu de
forma a facilitar a estudo dessa música?
Professor Dellal:Não creio que apenas
o conhecimento musical seja possível para esse tipo de análise, já que o método
tratou de linguagens comparadas. Mas, de certa forma, porque, ao se escutar
tantas obras bem compostas, tendo sempre uma visão crítica-reflexiva das
mesmas, acabamos adquirindo certo conhecimento da estrutura da música
ocidental.
Repórter Eli Antonelli/Publicado jornal Lona - Grupo Positivo
Repórter Eli Antonelli/Publicado jornal Lona - Grupo Positivo
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