O mês de agosto marcou o centenário da morte de Euclides da Cunha. Sua
obra máxima foi sem dúvida “Os sertões” que descreve o conflito no sertão da
Bahia, a campanha das forças republicanas contra o arraial de Antonio
Conselheiro. A experiência como jornalista e escritor não teria, certamente, a
mesma força se não fosse incorporado o seu conhecimento militar. Bom aluno, mas
costumeiramente indisciplinado e muitas vezes mal humorado, cresceu na carreira
militar, mas houve constantes trocas de unidades. Deixando claro sua
inquietação no exercício das funções militares.
Mas, sua falta de vocação para a carreira militar é irrelevante dado a
importância que seus conhecimentos adquiridos desta experiência proporcionaram
na descrição e na construção narrativa da Guerra de Canudos. O escritor Umberto
Peregrino em “Euclides da Cunha e outros estudos” destaque que Euclides compôs
a história militar de “Os Sertões” não apenas como uma simples crônica, ou com apresentação
de documentos ou ainda com uma simples discussão de combates e batalhas, ele
formulou sua narrativa a partir de todos os elementos que compõem a guerra. Euclides
consegue analisar os fatos a partir das relações de ordem econômica, social, antropológica
e geográfica.
Sua narrativa não é uma descrição lógica do acontecimento com citações
de datas e também não há objetivo de trazer a informação do fato e efeito.
Euclides constrói a obra, como no capítulo “A Luta’ a partir da reinvenção dos
acontecimentos de forma natural, contando planos e descrição de combates a
partir de uma lógica de quem realmente conhece os fatos e não simplesmente os
descreve de forma superficial.
Sua obra é composta de críticas às
estratégias militares estabelecidas no combate e precisamente aos comandantes,
cujos perfis são descritos por Euclides sem a preocupação da exultação
costumeiras dos quartéis. Mas não chegou a ser injusto, pois sabia reconhecer
as qualidades quando estas realmente existiam.
Sua visão militar reconhece que a dificuldade da campanha de Canudos se
deu por diversos motivos dentro os principais descritos por ele estão a terra
árida e penosa, e a força do jagunçu, descrita da seguinte forma por Euclides
“O jagunço é uma tradução do iluminado da idade média. O mesmo desprendimento
pela vida e mesma indiferença pela morte, dão-lhe o mesmo heroísmo mórbido e
inconsciente do hipnotizado e impulsivo”.
Até o fim do período militar, a forma de retratar e resgatar as memórias
do escritor, não eram muito aprofundadas na questão dos fatos pessoais que o
envolveram. A descrição de Euclides nas obras na época da ditadura era mostrada
com enfoque a sua experiência militar e a sua obra, como apresentada por
Umberto Peregrino em 1968. Há uma pequena passagem que descreve Euclides como
um sofredor, Umberto cita Gilberto Freire que coloca a importância que a falta
de uma mulher que o compreendesse e o amasse resultou na vida do escritor
“Euclides nunca se completou como adulto e feliz. Faltava-lhe uma mulher que o
conduzisse às zonas de sensibilidade de compreensão e de simpatia humana, que o
homem sozinho não consegue, apenas percorre angustiado, ou não percorre nunca”
Faltou na vida de Euclides uma mulher amiga, inteligente para integrá-lo a
alegria de viver.
Os intelectuais constantemente se desligam da realidade imediata e
necessitam de alguém por perto que os compreenda integralmente. As citações são
breves, o autor afirma que havia necessidade de estímulo de amor para Euclides,
mas logo reinicia seu discurso da importância da obra, da genialidade do
nacionalista férvido. Fala da importância da carreira militar, não deixa de
citar problemas como sua doença, que o acompanhou durante toda a sua vida,
talvez motivo do constante mau humor, fala de suas inquietudes, mas não cita
fatos que venham a manchar sua honra, como questões envolvendo a traição de sua
esposa que culminou com seu assassinato em 15 de agosto de 1909.
Box:
Entre as várias atrações que estão ocorrendo em homenagem ao escritor,
os fãs de Euclides da Cunha não podem deixar de conferir o “Seminário
Internacional 100 anos sem Euclides”, que ocorrerá em Cantagalo/RJ nos dias 25 a 27 de setembro.
Especialistas, pesquisadores e estudantes vão debater a importância da obra
euclidiana. http://www.projetoeuclides.iltc.br
texto publicado no jornal LONA- Universidade Positivo 2009
Eli Antonelli
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